Linhas e planos esbatidos, em gradações esfumadas, produzem hipotéticas figuras com maior ou menor grau de sensualidade. Assim o observador esteja mais ou menos disponível para ser contaminado.
Mesmo o olhar mais despreocupado não consegue ser imparcial na análise fortuita. Detecta sensualidade na frieza de um conjunto de linhas e planos inventados ao acaso. Ou será que o acaso não existe?
Olhar o rendilhado pressupõe minúcia e pormenor, coisa contrária ao nebuloso, que pauta pela ausência destas características. Pretender olhar com rigor através do nevoeiro é uma improbabilidade.
Entrar no desconhecido pode ser uma tentação, mas a grande maioria das pessoas prefere manter-se na sua zona de conforto e nem sequer arrisca assomar-se aos buracos do desconhecido.
Quando os tempos andam negros apetece-me lavar o planeta com lixívia, deixando-o branco imaculado. E, depois colocá-lo a enxugar numa outra dimensão, onde possa observá-lo e compará-lo com os de outros sistemas solares, onde a mão do homem não tocou.
Na fronteira entre o abstracto e o figurativo existe um universo promiscuo de formas não assumidas que podem gerar a visão de um cosmos ainda não identificado.
O claro-escuro favorece a leitura lógica perante uma intersecção de planos. A mente, ajudada pela gradação de tons, é estimulada para livremente construir imagens e universos plausíveis.