O cruzar de vivências impõe moldagens de trajectórias. Assim as linhas e os planos se alteram ao sabor do sopro dos ventos, na espectactiva do convívio e da harmonia.
Como reforço da natureza, a vida recusa espaços vazios. A mancha afirma a diferença pela distinta coloração. Elementos autónomos crescem, preenchem possibilidades, unem oposições e dissimulam incongruências onde viver pressupõe harmonizar.
Por vezes a solução aparece-nos em forma de caos e não nos apercebemos da saída. É preciso não desesperar ! Escondido numa mancha desfigurada, existe o futuro brilhando.
Um olhar mais elucidado saca do nada quotidiano uma forma de vida tão importante e complexa como a do mais ilustre cidadão. O viajante espacial terá oportunidade de se deleitar com a visão da lombriga cosmonauta, elo de ligação de universos distintos. Sensual e elegante, desloca-se com graça e sem parcimónia nas entranhas do seu mundo, cativando os olhares de quem a inveja ou deseja.
Rompendo os planos da lógica, mais uma vez, o visível da matéria transgride fronteiras. Entra e sai em universos paralelos numa inusitada liberdade moral, desformatando convenções, de mãos dadas com o absurdo.
As formas, existencialistas, condenadas à contaminação recíproca, interveem aprisionando-se mutuamente, demonstrando assim a inexistência da liberdade total - vontade e utopia.
No caldo morno do pensamento, algumas ideias tomam colorações diversas sem se definirem formalmente. Subjugadas por outras, menos audazes e pouco ambiciosas, expandem-se no espaço sem se assumirem figura ou fundo. Surge mais um embrião, sem membrana fronteiriça que o limite, quiçá um novo conceito pleno de liberdade.
A simples percepção da cor é-me complementada com a diferenciação de nuances em tons e texturas. Um elo aglutinante une as manchas sem se denunciar. Como um sopro de fresca brisa, o prazer entra-me pelo olhar com retorno colorido. O calor do amarelo fortalece-se de púrpura e acalenta-me as sensações. A contradição é óbvia e desejada. Uma pequena ilha de lógica vagueia no oceano do absurdo.
Das emaranhadas manchas de cor solta-se uma ideia tridimensional. O líquido amniótico derramado na tela alimenta mais uma forma embrionária que se solta e vem ao encontro da visão. O vermelho vital concretiza-se em esboço figurativo.
Numa época em que a hipocrisia acinzenta as tomadas de atitude e impõe as meias tintas do politicamente correto, é bom existir nas artes quem não se deixe alienar, respirando fundo, com as pulsações em alta, negando o biorritmo dos hibernados.
A luxúria da cor é um bom tónico para quem aprecia a frescura do sangue na guelra e nega a dormência do cinzentismo apagado.